sexta-feira, 23 de abril de 2010




Engolindo sapos.
zé.


A 4ª Turma do STJ decidiu que a compra de uma garrafa de refrigerante contendo um insento, mas que não chegou a ser consumida, não gera dano moral. O relator foi o ministro Fernando Gonçalves. O ministro disse que a aquisição do produto com esse incômodo objeto de fato gera desconforto no consumidor, mas não basta para configurar dor moral. Trata-se, ao que se depreende do voto, de um aborrecimento normal de quem vive em sociedade. Tenho cá minhas dúvidas, mas respeito o entendimento. Na caserna e na magistratura é assim: manda quem pode, obedece quem tem juízo. É claro que o relator não está insinuando que somente haveria dano moral se o consumidor engolisse o inseto, mas que o acontecimento, banal numa sociedade de consumo, se resolveria com a troca da garrafa de refrigerante por outra. Acrescento: de preferência, de outro fabricante...
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1.O autor é juiz do trabalho no Rio de Janeiro(7ª Turma).
2.Fonte: Boletim Eletrônico do STJ de 23/4/2010.
3.Ilustração:http://images.google.com.br/images?um=1&hl=pt-BR&rlz=1I7GGLL_pt-BR&tbs=isch:1&q=sapo&sa=N&start=20&ndsp=20




Angústia.


Um dia você acorda
e aquela dor não está mais ali.
O
seu coração, antes tão machucado,
não está alegre nem triste.
Só um pouco mais vazio.
Então
você se olha no espelho e
vê que aquela tristeza cobrou um preço
alto paradesocupar a sua alma.
Você está velho,
oco,
o seu riso é sem graça.
Um
riso de encomenda,
quase um teatro barato
que você encena pra evitar que as pessoas
perguntem o que você tem.
Você
sai à rua, vê toda
aquela gente indo e vindo, indo e vindo,
e percebe que
cada pessoa que passa
levou um pedaço do que era seu,
do que você tinha de mais bonito,
e
nenhuma tem intenção de devolver.
você volta pra casa e chega à conclusão
de que não dá mais tempo, de que não vale a pena.
E
outra dor se apossa da sua escritura de pessoa.
Você
tem agora um outro algoz, um outro proprietário,
o carcereiro que tem a chave da cela.
Essa
é a sua história e a minha.
Somos
os personagens da nossa própria tragédia.
Então
passamos a desejar o momento em que o pano cai.
Mas ele não cai.
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1.O autor não é ninguém.
2.Ilustração:http://images.google.com.br/images?um=1&hl=pt-BR&rlz=1I7GGLL_pt-BR&tbs=isch:1&q=ANG%C3%9ASTIA&sa=N&start=160&ndsp=20