sábado, 24 de julho de 2010

Bocelli - Ave Maria de Gounod



http://www.youtube.com/watch?v=AHZQlMvFYn4





Andrea Bocelli: "Ave, Maria!" (Franz Schubert):

http://www.youtube.com/watch?v=KbA63uIbqqY
http://www.youtube.com/watch?v=KbA63uIbqqY
"Pra não dizer que não falei das flores".

É possível que muitos de vocês nunca tenham ouvido falar de Geraldo Vandré. Vocês não viveram os "anos de chumbo". Não vou falar disso. Leiam os livros A Ditadura Escancarada, A Ditadura Encurralada, A Ditadura Derrotada e a Ditadura Envergonhada, de Elio Gaspari, editados pela Companhia das Letras, e entenderão o porquê de muitas coisas, especialmente o fato de poderem se reunir livremente em qualquer lugar e falar do que quiserem sem que ninguém lhes encha o saco. Se tiverem um tempinho, ajoelhem-se e peçam a Deus pela alma daqueles que foram torturados e estraçalhados nos porões dos quarteis da polícia da época. Essa polícia que a gente paga com o nosso salário. O título  desta postagem roubei da música "Pra Não dizer que não Falei das Flores", de Geraldo Vandré (foto acima), cantada por ele em 1974 no Festival Internacional da Canção, promovido pela Rede Record. Perdeu para Sabiá, de Chico e Jobim.Foi proibida pela ditadura militar.Quem quiser ouvi-la, cantada pelo próprio Vandré(foto atual, à direita), veja este vídeo:


                                                                                                  
Mas não vim aqui falar de política. Acho política e políticos um saco! Vim falar de flores. De flores, frutas, árvores. Não sei exatamente quando isso deu em mim, mas um dia, em vez de jogar um caroço de manga numa lixeira da prefeitura, ou no chão, como fazem as pessoas "civilizadas",  resolvi deixá-la com cuidado num canteiro de terras defronte a um banco.
Dias depois, passei ali por acaso e vi que a mangueira tinha brotado e se erguia vigorosamente ao encontro dos pássaros, da chuva, da lua, das estrelas, do céu. Estendia a mão para Deus, agradecida. A partir desse dia, que já nem trago na memória, nunca mais joguei uma semente no lixo, e ensino isso a meus filhos e eles ensinam aos amigos que ensinam aos amigos que ensinam aos amigos dos amigos. A cidade está ficando linda! Os passarinhos e as borboletas voltaram. Os pássaros bicam as sementes, as borboletas sorvem o néctar e espalham o pólen. O que deixam no chão, as formigas carregam e vão espalhando mais vida por aí.  Hoje, tenho um monte de pés de frutas,árvores frondosas, palmeiras, coqueiros e flores que os botânicos e os curiosos passam horas discutindo como aquilo foi parar ali. Eu rio, apenas, e deixo que eles se debatam nas suas teorias mirabolantes.


Também faço isso com livros que já li e CDs que ouvi e não quero mais. Não os jogo no lixo, simplesmente. Finjo que esqueço no ônibus, nas barcas, nos trens, táxis ou metrô. Para livros e CDS, bolei um bilhetinho, que colo em cada um, e que diz mais ou menos o seguinte:

"Ninguém esqueceu este livro ou este CD. Eu o deixei aqui de propósito. Certamente você já quis comprar um CD novo por causa de uma música que ouviu no rádio, ou na novela, ou um livro do qual ouviu falar, mas tinha de comprar o material escolar, levar a molecada ao McDonald's ou ir ao cinema no sábado à noite com a namorada.Faça o que for mais urgente e necessário. Deixe os livros e os CDs por minha conta. Depois de ouvir o CD, ou ler o livro, faça como eu fiz: deixe-os nalgum cantinho, bem protegido, para que outras pessoas tenham a mesma sorte que você. Não se aproprie da cultura. Ela pertence a todos. Quando você se julga dono da cultura e da informação, está a meio passo da ditadura. Da ditadura para a forca é uma questão de tempo. E, como disse Caetano, "será mesmo que esta América precisará sempre de rídículos tiranos?". Acho que, fazendo o que eu faço, entrei sem querer nessa cadeia causal de coisas que acontecem, e que Rafaela chama muito acertadamente de "mutualismo": acontece em Biologia, Botânica, Matemática, Física, Sociologia, Direito, sociedade, família, pessoas,trabalho,escola,vida. Acontece em tudo! Por isso, cada gesto seu provoca um gesto no outro, que provoca no outro, que provoca no outro que provoca no outro. Que explode de volta em você...



As flores da minha rua.
                                                                zé

São
flores
da minha rua,
da rua que já foi sua
e agora não tem mais graça.
Moram 
ali nos 
canteiros,
becos,
bancos, bar, bueiros,
num canto qualquer da praça;
comem sol,
bebem lua,
vivem da piedade
do
orvalho
da
cidade, de
um zé qualquer
dessa rua
ou de quem passa na calçada,
o
peito cheio de nada
e a alma cansada e nua.


fotos by




Quase um segundo...


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1.foto: http://f.i.uol.com.br/folha/ilustrada/images/08095268.jpg